Diálogo com Cacaso
Meu coração de dois mil e seis
Não é mais meu nem de ninguém
Simplesmente por não existirem mais corações.
Morcegos, hienas, cabras, porcos jogam baralho,
Bebem cerveja e dão tapinhas nas costas
Ao se despediram pela manhã
E saírem um a um
De uma parta entreaberta de um bar.
Não há fronteiras.
E tanto faz o rei estar nu ou vestido
E tanto faz isto ou aquilo.
Também não há mais corpos
E até as almas são virtuais,
Metamorfoseiam-se de um site para outro
E apresentam novas cores
Que se apagam ao mínimo sinal de autenticidade.
No entanto, a vida não dorme,
Padece de insônia eternética.
Angélica CastilhoRio de Janeiro, 21 de outubro de 2006.
domingo, outubro 29, 2006
Metapoesia-existência
Escrever é colocar em um saco
Arrastado pela vida e lançado sobre os ombros
Tudo que te (des)orienta:
Pertences, apropriações indébitas, ofertas do acaso,
Acúmulos fundidos uns aos outros
Que saltam do fundo escuro
E te assaltam com novidades tão íntimas, tão tuas...
Que é inevitável o espanto
E a constatação
De que somos construídos por sonhos e pesadelos de toda a humanidade.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2006.
Escrever é colocar em um saco
Arrastado pela vida e lançado sobre os ombros
Tudo que te (des)orienta:
Pertences, apropriações indébitas, ofertas do acaso,
Acúmulos fundidos uns aos outros
Que saltam do fundo escuro
E te assaltam com novidades tão íntimas, tão tuas...
Que é inevitável o espanto
E a constatação
De que somos construídos por sonhos e pesadelos de toda a humanidade.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2006.
TPP
Se uma amiga liga e você não pode sair para um programa pra lá de legal, uma balada e tanto com risos, muitos risos por nada e por tudo, porque seu carro está na oficina e você está sem dinheiro pra o táxi e até mesmo para a bebida; se você está desmarcando todas as oportunidades de happy hour; e se você dispensa até aquele carinha que você estava super a fim de sair, devido ao crescente mau humor e fica em casa assistindo TV sábado à noite, amigo (a), você está com TPP, tensão pré-pagamento.
Sintomas: irritabilidade progressiva acompanhada de discursos filosóficos neomarxistas sobre o próprio capital e um sentimento de culpa revelador de sua orientação cristã com direito a digressões pelos sete pecados capitais. Período: os quinze dias que antecedem o depósito do salário em sua conta bancária. Medicamento: reclusão domiciliar durante o período de privação financeira. Contra-indicação: pessoas deprimidas por natureza tendem a crises de choro e outras variações de um quadro depressivo. Paliativos: caminhadas, socos em sacos de areia, música lata enquanto profere os mais baixos vernáculos de nossa língua materna. Para uma cura eficaz: planejamento do orçamento, esconder o cartão de crédito, cancelar o cheque especial e repetir cem vezes antes de dormir para seu cérebro fixar durante o sono: “Odeio ir a shoppings e fazer compras!”
Lembre-se, amigo (a), se São Francisco pôde abdicar de seus bens e sair nu por aí, porque você não pode, pelo menos, deixar de lado aquela blusa deslumbrante da Forum ou adiar a troca do seu carro por um outro zero?... Boa sorte!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2006.
Se uma amiga liga e você não pode sair para um programa pra lá de legal, uma balada e tanto com risos, muitos risos por nada e por tudo, porque seu carro está na oficina e você está sem dinheiro pra o táxi e até mesmo para a bebida; se você está desmarcando todas as oportunidades de happy hour; e se você dispensa até aquele carinha que você estava super a fim de sair, devido ao crescente mau humor e fica em casa assistindo TV sábado à noite, amigo (a), você está com TPP, tensão pré-pagamento.
Sintomas: irritabilidade progressiva acompanhada de discursos filosóficos neomarxistas sobre o próprio capital e um sentimento de culpa revelador de sua orientação cristã com direito a digressões pelos sete pecados capitais. Período: os quinze dias que antecedem o depósito do salário em sua conta bancária. Medicamento: reclusão domiciliar durante o período de privação financeira. Contra-indicação: pessoas deprimidas por natureza tendem a crises de choro e outras variações de um quadro depressivo. Paliativos: caminhadas, socos em sacos de areia, música lata enquanto profere os mais baixos vernáculos de nossa língua materna. Para uma cura eficaz: planejamento do orçamento, esconder o cartão de crédito, cancelar o cheque especial e repetir cem vezes antes de dormir para seu cérebro fixar durante o sono: “Odeio ir a shoppings e fazer compras!”
Lembre-se, amigo (a), se São Francisco pôde abdicar de seus bens e sair nu por aí, porque você não pode, pelo menos, deixar de lado aquela blusa deslumbrante da Forum ou adiar a troca do seu carro por um outro zero?... Boa sorte!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2006.
sábado, outubro 21, 2006
sábado, outubro 14, 2006
domingo, outubro 08, 2006
VISITA AO OLÍMPO
Permaneces Adônis, porém,
de outros sonhos e outonos
em jardins primaveris esquecidos
regados por chuvas
constantemente tristonhas e canhestras.
E não te reconheço
Pois não sou mais
A tua espera
E nem mais afroditicamente
Menina risonha.
E tu não me reconheces...
As imagens que trazemos
São engodos do que agora nos tornamos –
Erros humanos que acertaram na vida...
Angélica Castilho
08.10.2006
Permaneces Adônis, porém,
de outros sonhos e outonos
em jardins primaveris esquecidos
regados por chuvas
constantemente tristonhas e canhestras.
E não te reconheço
Pois não sou mais
A tua espera
E nem mais afroditicamente
Menina risonha.
E tu não me reconheces...
As imagens que trazemos
São engodos do que agora nos tornamos –
Erros humanos que acertaram na vida...
Angélica Castilho
08.10.2006
domingo, outubro 01, 2006
FIAT LUX
Sempre que há mais uma queda
apesar de tudo...
Há igualmente o caminho estendido
a frente.
A dor de lembranças e saudades
pelos entrecantos
dos muitos pensamentos,
lamentos e, sobretudo, porquês
ficam por entre os passos
E apesar de tudo
há o que acompanha
e prefiro nomear de Luz.
Apesar de tudo,
façam luz em suas vidas!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, primeiro de outubro de 2006.
Para meus amigos Maurício e Bárbara.
Sempre que há mais uma queda
apesar de tudo...
Há igualmente o caminho estendido
a frente.
A dor de lembranças e saudades
pelos entrecantos
dos muitos pensamentos,
lamentos e, sobretudo, porquês
ficam por entre os passos
E apesar de tudo
há o que acompanha
e prefiro nomear de Luz.
Apesar de tudo,
façam luz em suas vidas!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, primeiro de outubro de 2006.
Para meus amigos Maurício e Bárbara.
NASCIMENTO
Apolo nasce
completa, inicia
Seu ciclo.
E se embebeda.
O deus do logos,
O deus incompatível a eros.
Sete cismes
Sete voltas em torno de Delfos - ilha luz...
Sete degraus de uma escada infinda.
Apolo nasce
E se embebeda
Lindamente com vinho e amor...
O deus se rendeu.
Angélica CastilhoRio de Janeiro, 10 de julho de 1994.
Apolo nasce
completa, inicia
Seu ciclo.
E se embebeda.
O deus do logos,
O deus incompatível a eros.
Sete cismes
Sete voltas em torno de Delfos - ilha luz...
Sete degraus de uma escada infinda.
Apolo nasce
E se embebeda
Lindamente com vinho e amor...
O deus se rendeu.
Angélica CastilhoRio de Janeiro, 10 de julho de 1994.
DOAÇÃO SEM CLÁSULAS
Te dou os jardins
Pois as rosas são breves.
Te dou os jardins de Adônis
Que agora florescem prematuros
Em nosso fim de outono.
Te dou os beijos desabrochados
De quem ama, e os perfumes,
Os carinhos, as realidades
Deste amor
Te dou-me em flor!...
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de junho de 1994.
Te dou os jardins
Pois as rosas são breves.
Te dou os jardins de Adônis
Que agora florescem prematuros
Em nosso fim de outono.
Te dou os beijos desabrochados
De quem ama, e os perfumes,
Os carinhos, as realidades
Deste amor
Te dou-me em flor!...
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de junho de 1994.
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