sábado, dezembro 16, 2006
sábado, novembro 18, 2006
APURAÇÃO
vidas que se perdem...
penas e purpurinas
confetes e brilhos
espalhados em desencontros
em sambas atravessados
tempo não
tempo não volta
volta! – grito na multidão não se escuta.
surdo, surdo, surdo
na marcação
de alguém perdido – já se perdeu?
pés não acompanham a alma
alma sem corpo
garrafa de cerveja vazia
caída no meio-fio
na manhã de quarta-feira.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 03 de março de 2006.
vidas que se perdem...
penas e purpurinas
confetes e brilhos
espalhados em desencontros
em sambas atravessados
tempo não
tempo não volta
volta! – grito na multidão não se escuta.
surdo, surdo, surdo
na marcação
de alguém perdido – já se perdeu?
pés não acompanham a alma
alma sem corpo
garrafa de cerveja vazia
caída no meio-fio
na manhã de quarta-feira.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 03 de março de 2006.
QUASE LÁ
Deserto:
possibilidade de felicidade
que só solidão
em forma de paz
traduz,
aridez
que cobre rios de calmaria
prontos para emergirem
mas apenas o fazem
com o silêncio da procura meditativa.
Descobrir-se é caminhar par ao ermo
com cantil, cobertas, esperança e alegria.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 08 de março de 2006.
Deserto:
possibilidade de felicidade
que só solidão
em forma de paz
traduz,
aridez
que cobre rios de calmaria
prontos para emergirem
mas apenas o fazem
com o silêncio da procura meditativa.
Descobrir-se é caminhar par ao ermo
com cantil, cobertas, esperança e alegria.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 08 de março de 2006.
CONSELHO QUE NÃO SE DÁ
Quando alguém disser
a poucas vistas
que o encontro de vocês é kármico,
enfim, se utilizar qualquer teoria
de coincidência cósmica ou
o santo nome do destino,
FUJA!!!
Os grandes encontros
só são percebidos
depois de anos...
E todos são pacíficos e benéficos
e alegres e compreensivos,
sobretudo, compreensivos.
Não existem grandes amigos
nem grandes amores de uma semana.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 26 de março de 2006.
Quando alguém disser
a poucas vistas
que o encontro de vocês é kármico,
enfim, se utilizar qualquer teoria
de coincidência cósmica ou
o santo nome do destino,
FUJA!!!
Os grandes encontros
só são percebidos
depois de anos...
E todos são pacíficos e benéficos
e alegres e compreensivos,
sobretudo, compreensivos.
Não existem grandes amigos
nem grandes amores de uma semana.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 26 de março de 2006.
AINDA ACONSELHANDO
Para derrotar o inimigo,
que pode ser você mesmo,
é preciso fortalecer-se.
Não importa a força do outro,
o que importa é a sua estar segura,
o que importa é o escudo de Jorge na frente,
angelus ao redor,
a espada desembainhada
e os espelhos de Iemanjá e Oxum
repelindo todo bem que faz mal
e todo mal que tal acalanto provisório
para feridas ancestrais.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, final março de 2006.
Para derrotar o inimigo,
que pode ser você mesmo,
é preciso fortalecer-se.
Não importa a força do outro,
o que importa é a sua estar segura,
o que importa é o escudo de Jorge na frente,
angelus ao redor,
a espada desembainhada
e os espelhos de Iemanjá e Oxum
repelindo todo bem que faz mal
e todo mal que tal acalanto provisório
para feridas ancestrais.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, final março de 2006.
INTERCURSO FRANCÊS
Eu grito
Ne me quite pas!
Que é mesmo para você não entender.
Ne me quite pas!
Para minimizar a sua negligência.
Ne me quite pas!
Para reforçar ser unilateral o lamento.
Foram idas
Mais il’ y a retours
Tout de suíte.
Arrive!
Abandono assim
Quando não há mais amor é irreparável
Sem atos
Sem argumentos
Lágrimas pour um couer cassé são demodée
Sala vazia
Liga-se a TV
Fora do ar.
Ne me quite pas...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 31 de maio de 2006.
Eu grito
Ne me quite pas!
Que é mesmo para você não entender.
Ne me quite pas!
Para minimizar a sua negligência.
Ne me quite pas!
Para reforçar ser unilateral o lamento.
Foram idas
Mais il’ y a retours
Tout de suíte.
Arrive!
Abandono assim
Quando não há mais amor é irreparável
Sem atos
Sem argumentos
Lágrimas pour um couer cassé são demodée
Sala vazia
Liga-se a TV
Fora do ar.
Ne me quite pas...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 31 de maio de 2006.
ENFIM, SÓ!
O que se faz quando a beleza exala em beijos, sorrisos sem motivos
E o corpo insiste em amar o pulsar, o sol, o nada ao redor?
Júbilo de aleluia de quem reconhece a magnitude
De se olhar pela janela e constatar
Que está ventando, está ventando!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 16 de junho de 2006.
O que se faz quando a beleza exala em beijos, sorrisos sem motivos
E o corpo insiste em amar o pulsar, o sol, o nada ao redor?
Júbilo de aleluia de quem reconhece a magnitude
De se olhar pela janela e constatar
Que está ventando, está ventando!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 16 de junho de 2006.
APARIÇÃO
Eu parei aos vinte e oito anos.
Lá ficou minha vida presa em galhos secos,
Retalhada dia a dia, mês a mês, ano a ano
Em corpos fendidos, esturricados pelo tempo.
Esse desgaste não se vê,
Esconde-se na leveza saltitante dos sorrisos.
Porém, toma corpo ruidosamente em noite de vendaval.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 27 de junho de 2006.
EPIFANIAS SEM LEGENDA
é... está sendo assim,
uns dias ruins,
um dia atrás do outro.
mas cair em si
quando o trem não pára
e sua estação já passou
é isto... e aquilo,
são coisas sem especificações
todos os sentidos aguçadíssimos,
todas as respostas em volta
sem um intérprete oracular.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 12 de julho de 2006.
é... está sendo assim,
uns dias ruins,
um dia atrás do outro.
mas cair em si
quando o trem não pára
e sua estação já passou
é isto... e aquilo,
são coisas sem especificações
todos os sentidos aguçadíssimos,
todas as respostas em volta
sem um intérprete oracular.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 12 de julho de 2006.
TESTEMUNHO
E meu corpo vai adiante,
volta, dá voltas!
E tudo é seguir.
Ele é movimento fruição desinibida
mesmo quando repousante.
É autônomo e me leva longe,
andarilho que é.
Não há concordância consciente entre nós
E é essa minha divisão meu álibi,
Minha tentativa de engano pessoal,
De boicote de atos, desejos há muito desejados.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2006.
E meu corpo vai adiante,
volta, dá voltas!
E tudo é seguir.
Ele é movimento fruição desinibida
mesmo quando repousante.
É autônomo e me leva longe,
andarilho que é.
Não há concordância consciente entre nós
E é essa minha divisão meu álibi,
Minha tentativa de engano pessoal,
De boicote de atos, desejos há muito desejados.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2006.
DESENLACE
Bom dia! Eu vou-me embora.
Não há mais luar,
Alto caminha o sol,
Garrafas, latas acumulam-se nas escadas,
E o burburinho apressado
A caminho da Avenida Passos
Revela o mundo desperto.
Bom dia. Mas já é quase tarde...
E a prisão do meio de tuas pernas
Aflige-me, deleita-me...
Desassossego!
Sair assim, com roupa por abotoar,
Com cabelo por amarrar, prender,
Sair assim, contendo o corpo horas atrás liberto,
Alvoroça-me toda.
Mas o sol está alto
Cantos de sirenes e buzinas e palavras anunciam
O ritmo da segunda-feira magra, magra de tantas caminhadas.
Bom dia... Eu vou ficando...
Entre braços somados aos meus
Entre múltiplos atos desconexos
Entre engolires de beijos – corpos acoplados...
Bom dia. Já é tarde...
Vou-me embora sem bater a porta
Cato espelho, carteira, bolsa, celular, batom, chaves,
Enquanto desabas em novo sono.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2006.
Obs.: Inspirado no poema “Boa noite, Maria!”, de Castro Alves.
domingo, novembro 12, 2006
DAS NEGATIVAS
Corrupção
Retórica
Natureza condenada
Mortos
Ônibus:350
Negócios
Roubo
Reféns
Semente: Será fechado!
Armas
Assassino
Avião: turismo nas alturas
Pizzaria
Detidos
Mais pobres, não!
Corrupção
Retórica
Natureza condenada
Mortos
Ônibus:350
Negócios
Roubo
Reféns
Semente: Será fechado!
Armas
Assassino
Avião: turismo nas alturas
Pizzaria
Detidos
Mais pobres, não!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 10 de novembro de 2006.
Rio de Janeiro, 10 de novembro de 2006.
sábado, novembro 11, 2006
PARA PENSAR
Nuvens pesadas
de gotas leves
as quais sambam pelo vento
molham a alma da gente
secam sorrisos pedidos
sentimentos falidos.
Quem sabe a primavera
Não virá este ano?
Quem sabe os beijos de paixão
Murcharam na logicidade?
Quem sabe os longos suspiros
Morrerem de insuficiência respiratória?
NÆo se ouve mais alaridos
Nem ruídos, gemidos...
Quem partiu para não voltar?
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1995.
Nuvens pesadas
de gotas leves
as quais sambam pelo vento
molham a alma da gente
secam sorrisos pedidos
sentimentos falidos.
Quem sabe a primavera
Não virá este ano?
Quem sabe os beijos de paixão
Murcharam na logicidade?
Quem sabe os longos suspiros
Morrerem de insuficiência respiratória?
NÆo se ouve mais alaridos
Nem ruídos, gemidos...
Quem partiu para não voltar?
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1995.
PURIFICAÇÃO
Da terra
o aconchego
do vento materno,
dormir em paz.
Nada de palmas,
risos, prantos...
o silêncio
das noites de
inverno,
longas e frias,
encontrar respostas
para as agitações do dia.
o balançar
das ondas quebrando
em Cabo Frio
e
molhar a alma
lavar as lágrimas
começar a vida.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 12 de julho de 1995.
Da terra
o aconchego
do vento materno,
dormir em paz.
Nada de palmas,
risos, prantos...
o silêncio
das noites de
inverno,
longas e frias,
encontrar respostas
para as agitações do dia.
o balançar
das ondas quebrando
em Cabo Frio
e
molhar a alma
lavar as lágrimas
começar a vida.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 12 de julho de 1995.
SÁTIRA
Um grande teatro
vazio
sombrio
empoeirado
As luzes vêm dos olhos atentos
a espera de uma peça,
que não chega,
Não chegam os atores,
os amores rebeldes
e os corpos vadios.
Há apenas
um olhar perdido
neste espaço
que não é passado,
não é presente, nem futuro
é memória.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 19 de maio de 1995.
Um grande teatro
vazio
sombrio
empoeirado
As luzes vêm dos olhos atentos
a espera de uma peça,
que não chega,
Não chegam os atores,
os amores rebeldes
e os corpos vadios.
Há apenas
um olhar perdido
neste espaço
que não é passado,
não é presente, nem futuro
é memória.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 19 de maio de 1995.
ENCONTRO
Vejo outro
Bem distinto
Em pensamentos.
Vejo outro
Bem definido
Em atitudes –
o reconhecimento
do estado.
... A estranheza
Gera dor
Impede contato,
Tato, olfato,
Suor, paixão.
O que difere
Repele pela sua essência.
Todas as idades,
Todas as crenças
São iguais.
Os ideais, estes sim,
São ímpares e solitários.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 1995.
Vejo outro
Bem distinto
Em pensamentos.
Vejo outro
Bem definido
Em atitudes –
o reconhecimento
do estado.
... A estranheza
Gera dor
Impede contato,
Tato, olfato,
Suor, paixão.
O que difere
Repele pela sua essência.
Todas as idades,
Todas as crenças
São iguais.
Os ideais, estes sim,
São ímpares e solitários.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 1995.
domingo, novembro 05, 2006
EXTREMO
Acordei sonhando
Em te
Ter, correr
Pular... amar.
Acordei e estavas
Aqui, tão perfeitamente
absorvente
envolvente
Em atos plurais.
Nesta solidão
Neste silêncio vespertino
Teus sonhos gigantes,
Cavaleiros andantes,
Ouvi beijos
Provei pensamentos
Vi toques
Cheirei sabor
Amassei suspiros.
Desejo de ter-te
In-teiro.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1994.
Acordei sonhando
Em te
Ter, correr
Pular... amar.
Acordei e estavas
Aqui, tão perfeitamente
absorvente
envolvente
Em atos plurais.
Nesta solidão
Neste silêncio vespertino
Teus sonhos gigantes,
Cavaleiros andantes,
Ouvi beijos
Provei pensamentos
Vi toques
Cheirei sabor
Amassei suspiros.
Desejo de ter-te
In-teiro.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1994.
L’AMOR EST BEAU!
Exaurida de trabalhar
em versos e reversos
Vejo teu corpo
que é tão teu
e
que me parece tão minha carne,
minha terra,
minha ilha – delirantemente sonífera -
Então, logo a algazarra,
que a lembrança
traz
faz...
não deixa os sentidos voltarem à labuta
e fico te vendo dormir placidamente
entre uma batalha e outra.
Angélica Castilho
1997
Exaurida de trabalhar
em versos e reversos
Vejo teu corpo
que é tão teu
e
que me parece tão minha carne,
minha terra,
minha ilha – delirantemente sonífera -
Então, logo a algazarra,
que a lembrança
traz
faz...
não deixa os sentidos voltarem à labuta
e fico te vendo dormir placidamente
entre uma batalha e outra.
Angélica Castilho
1997
domingo, outubro 29, 2006
Diálogo com Cacaso
Meu coração de dois mil e seis
Não é mais meu nem de ninguém
Simplesmente por não existirem mais corações.
Morcegos, hienas, cabras, porcos jogam baralho,
Bebem cerveja e dão tapinhas nas costas
Ao se despediram pela manhã
E saírem um a um
De uma parta entreaberta de um bar.
Não há fronteiras.
E tanto faz o rei estar nu ou vestido
E tanto faz isto ou aquilo.
Também não há mais corpos
E até as almas são virtuais,
Metamorfoseiam-se de um site para outro
E apresentam novas cores
Que se apagam ao mínimo sinal de autenticidade.
No entanto, a vida não dorme,
Padece de insônia eternética.
Angélica CastilhoRio de Janeiro, 21 de outubro de 2006.
Meu coração de dois mil e seis
Não é mais meu nem de ninguém
Simplesmente por não existirem mais corações.
Morcegos, hienas, cabras, porcos jogam baralho,
Bebem cerveja e dão tapinhas nas costas
Ao se despediram pela manhã
E saírem um a um
De uma parta entreaberta de um bar.
Não há fronteiras.
E tanto faz o rei estar nu ou vestido
E tanto faz isto ou aquilo.
Também não há mais corpos
E até as almas são virtuais,
Metamorfoseiam-se de um site para outro
E apresentam novas cores
Que se apagam ao mínimo sinal de autenticidade.
No entanto, a vida não dorme,
Padece de insônia eternética.
Angélica CastilhoRio de Janeiro, 21 de outubro de 2006.
Metapoesia-existência
Escrever é colocar em um saco
Arrastado pela vida e lançado sobre os ombros
Tudo que te (des)orienta:
Pertences, apropriações indébitas, ofertas do acaso,
Acúmulos fundidos uns aos outros
Que saltam do fundo escuro
E te assaltam com novidades tão íntimas, tão tuas...
Que é inevitável o espanto
E a constatação
De que somos construídos por sonhos e pesadelos de toda a humanidade.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2006.
Escrever é colocar em um saco
Arrastado pela vida e lançado sobre os ombros
Tudo que te (des)orienta:
Pertences, apropriações indébitas, ofertas do acaso,
Acúmulos fundidos uns aos outros
Que saltam do fundo escuro
E te assaltam com novidades tão íntimas, tão tuas...
Que é inevitável o espanto
E a constatação
De que somos construídos por sonhos e pesadelos de toda a humanidade.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2006.
TPP
Se uma amiga liga e você não pode sair para um programa pra lá de legal, uma balada e tanto com risos, muitos risos por nada e por tudo, porque seu carro está na oficina e você está sem dinheiro pra o táxi e até mesmo para a bebida; se você está desmarcando todas as oportunidades de happy hour; e se você dispensa até aquele carinha que você estava super a fim de sair, devido ao crescente mau humor e fica em casa assistindo TV sábado à noite, amigo (a), você está com TPP, tensão pré-pagamento.
Sintomas: irritabilidade progressiva acompanhada de discursos filosóficos neomarxistas sobre o próprio capital e um sentimento de culpa revelador de sua orientação cristã com direito a digressões pelos sete pecados capitais. Período: os quinze dias que antecedem o depósito do salário em sua conta bancária. Medicamento: reclusão domiciliar durante o período de privação financeira. Contra-indicação: pessoas deprimidas por natureza tendem a crises de choro e outras variações de um quadro depressivo. Paliativos: caminhadas, socos em sacos de areia, música lata enquanto profere os mais baixos vernáculos de nossa língua materna. Para uma cura eficaz: planejamento do orçamento, esconder o cartão de crédito, cancelar o cheque especial e repetir cem vezes antes de dormir para seu cérebro fixar durante o sono: “Odeio ir a shoppings e fazer compras!”
Lembre-se, amigo (a), se São Francisco pôde abdicar de seus bens e sair nu por aí, porque você não pode, pelo menos, deixar de lado aquela blusa deslumbrante da Forum ou adiar a troca do seu carro por um outro zero?... Boa sorte!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2006.
Se uma amiga liga e você não pode sair para um programa pra lá de legal, uma balada e tanto com risos, muitos risos por nada e por tudo, porque seu carro está na oficina e você está sem dinheiro pra o táxi e até mesmo para a bebida; se você está desmarcando todas as oportunidades de happy hour; e se você dispensa até aquele carinha que você estava super a fim de sair, devido ao crescente mau humor e fica em casa assistindo TV sábado à noite, amigo (a), você está com TPP, tensão pré-pagamento.
Sintomas: irritabilidade progressiva acompanhada de discursos filosóficos neomarxistas sobre o próprio capital e um sentimento de culpa revelador de sua orientação cristã com direito a digressões pelos sete pecados capitais. Período: os quinze dias que antecedem o depósito do salário em sua conta bancária. Medicamento: reclusão domiciliar durante o período de privação financeira. Contra-indicação: pessoas deprimidas por natureza tendem a crises de choro e outras variações de um quadro depressivo. Paliativos: caminhadas, socos em sacos de areia, música lata enquanto profere os mais baixos vernáculos de nossa língua materna. Para uma cura eficaz: planejamento do orçamento, esconder o cartão de crédito, cancelar o cheque especial e repetir cem vezes antes de dormir para seu cérebro fixar durante o sono: “Odeio ir a shoppings e fazer compras!”
Lembre-se, amigo (a), se São Francisco pôde abdicar de seus bens e sair nu por aí, porque você não pode, pelo menos, deixar de lado aquela blusa deslumbrante da Forum ou adiar a troca do seu carro por um outro zero?... Boa sorte!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2006.
sábado, outubro 21, 2006
sábado, outubro 14, 2006
domingo, outubro 08, 2006
VISITA AO OLÍMPO
Permaneces Adônis, porém,
de outros sonhos e outonos
em jardins primaveris esquecidos
regados por chuvas
constantemente tristonhas e canhestras.
E não te reconheço
Pois não sou mais
A tua espera
E nem mais afroditicamente
Menina risonha.
E tu não me reconheces...
As imagens que trazemos
São engodos do que agora nos tornamos –
Erros humanos que acertaram na vida...
Angélica Castilho
08.10.2006
Permaneces Adônis, porém,
de outros sonhos e outonos
em jardins primaveris esquecidos
regados por chuvas
constantemente tristonhas e canhestras.
E não te reconheço
Pois não sou mais
A tua espera
E nem mais afroditicamente
Menina risonha.
E tu não me reconheces...
As imagens que trazemos
São engodos do que agora nos tornamos –
Erros humanos que acertaram na vida...
Angélica Castilho
08.10.2006
domingo, outubro 01, 2006
FIAT LUX
Sempre que há mais uma queda
apesar de tudo...
Há igualmente o caminho estendido
a frente.
A dor de lembranças e saudades
pelos entrecantos
dos muitos pensamentos,
lamentos e, sobretudo, porquês
ficam por entre os passos
E apesar de tudo
há o que acompanha
e prefiro nomear de Luz.
Apesar de tudo,
façam luz em suas vidas!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, primeiro de outubro de 2006.
Para meus amigos Maurício e Bárbara.
Sempre que há mais uma queda
apesar de tudo...
Há igualmente o caminho estendido
a frente.
A dor de lembranças e saudades
pelos entrecantos
dos muitos pensamentos,
lamentos e, sobretudo, porquês
ficam por entre os passos
E apesar de tudo
há o que acompanha
e prefiro nomear de Luz.
Apesar de tudo,
façam luz em suas vidas!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, primeiro de outubro de 2006.
Para meus amigos Maurício e Bárbara.
NASCIMENTO
Apolo nasce
completa, inicia
Seu ciclo.
E se embebeda.
O deus do logos,
O deus incompatível a eros.
Sete cismes
Sete voltas em torno de Delfos - ilha luz...
Sete degraus de uma escada infinda.
Apolo nasce
E se embebeda
Lindamente com vinho e amor...
O deus se rendeu.
Angélica CastilhoRio de Janeiro, 10 de julho de 1994.
Apolo nasce
completa, inicia
Seu ciclo.
E se embebeda.
O deus do logos,
O deus incompatível a eros.
Sete cismes
Sete voltas em torno de Delfos - ilha luz...
Sete degraus de uma escada infinda.
Apolo nasce
E se embebeda
Lindamente com vinho e amor...
O deus se rendeu.
Angélica CastilhoRio de Janeiro, 10 de julho de 1994.
DOAÇÃO SEM CLÁSULAS
Te dou os jardins
Pois as rosas são breves.
Te dou os jardins de Adônis
Que agora florescem prematuros
Em nosso fim de outono.
Te dou os beijos desabrochados
De quem ama, e os perfumes,
Os carinhos, as realidades
Deste amor
Te dou-me em flor!...
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de junho de 1994.
Te dou os jardins
Pois as rosas são breves.
Te dou os jardins de Adônis
Que agora florescem prematuros
Em nosso fim de outono.
Te dou os beijos desabrochados
De quem ama, e os perfumes,
Os carinhos, as realidades
Deste amor
Te dou-me em flor!...
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de junho de 1994.
sábado, setembro 30, 2006
UMA DAS FACES DO TRÁGICO
Na calmaria do abraço colado,
Em uma tarde nublada,
A aparente paz amorosa
Que só aponta angústia
Através de olhar o outro dormindo,
Tão ele... tão outro e inacessível.
Vontade de chorar em urros.
Chora de amor bom,
Chorar porque a felicidade também fere,
Chorar porque se sabe finita
E dona de um turbilhão de sentimentos inesgotáveis.
Angélica Castilho
2004.
Na calmaria do abraço colado,
Em uma tarde nublada,
A aparente paz amorosa
Que só aponta angústia
Através de olhar o outro dormindo,
Tão ele... tão outro e inacessível.
Vontade de chorar em urros.
Chora de amor bom,
Chorar porque a felicidade também fere,
Chorar porque se sabe finita
E dona de um turbilhão de sentimentos inesgotáveis.
Angélica Castilho
2004.
FORÇA SEMPRE!
Fé em Deus
Com São Jorge galopando veloz
E Iemanjá agitando todos os mares,
Mudando marés,
Fazendo o vento soprar
E nos levar!
Elevar,
Pôr no ar e na terra
Os sonhos de terras distantes em nós mesmas
Onde menina e onça são irmãs gêmeas,
Brincam de bonecas
E chamam pela mãe no meio da noite
Com medo do barulho do vento na janela.
A Mãe sempre acode lá e cá...
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2006
Fé em Deus
Com São Jorge galopando veloz
E Iemanjá agitando todos os mares,
Mudando marés,
Fazendo o vento soprar
E nos levar!
Elevar,
Pôr no ar e na terra
Os sonhos de terras distantes em nós mesmas
Onde menina e onça são irmãs gêmeas,
Brincam de bonecas
E chamam pela mãe no meio da noite
Com medo do barulho do vento na janela.
A Mãe sempre acode lá e cá...
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2006
MARGARIDA!
Estou feliz, feliz!
Acabaram as férias,
Mas junto com elas o trabalho!
Sou quase um ser liberto e incerto
Pelas madrugadas da Lapa.
Bebendo aqui e ali,
Com sorriso solto, folgado
De quem é dono de si
E levanta o nariz,
E cheira a noite
E canta pelo simples fato
De ir e vir sem saber por que.
É quase assim que ando a sonhar
Nessas noites últimas tomando o bonde
E vendo de Santa que a cidade é linda!
Linda e brilha mais com o meu olhar...
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2006.
Estou feliz, feliz!
Acabaram as férias,
Mas junto com elas o trabalho!
Sou quase um ser liberto e incerto
Pelas madrugadas da Lapa.
Bebendo aqui e ali,
Com sorriso solto, folgado
De quem é dono de si
E levanta o nariz,
E cheira a noite
E canta pelo simples fato
De ir e vir sem saber por que.
É quase assim que ando a sonhar
Nessas noites últimas tomando o bonde
E vendo de Santa que a cidade é linda!
Linda e brilha mais com o meu olhar...
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2006.
MINHA CONDIÇÃO
Quanto ao namoro...
acabou... É a vida!
Estou hibernando,
me refazendo tal qual lagarta
para uma primavera sem data de chegada,
talvez em outra galáxia,
em planos outros menos humanos
e, portanto, mais sensíveis...
Estou me refazendo meio fênix,
meio onça, meio boto cor-de-rosa.
Angélica CastilhoRio de Janeiro, 14 de junho de 2006.
Quanto ao namoro...
acabou... É a vida!
Estou hibernando,
me refazendo tal qual lagarta
para uma primavera sem data de chegada,
talvez em outra galáxia,
em planos outros menos humanos
e, portanto, mais sensíveis...
Estou me refazendo meio fênix,
meio onça, meio boto cor-de-rosa.
Angélica CastilhoRio de Janeiro, 14 de junho de 2006.
DOIS PERDIDOS NA NOITE FRIA
Não há solução! E o melhor é o movimento de busca. Mas buscar o quê, se todo o retorno ao passado é vão. O efeito curativo é de momentânea renovação da alma.
Ele lembrava do casamento há mais de uma década atrás. E de tudo mais relacionado à adolescência. Ela lembrava que foge de casamentos a la séc. XVI sujeitos a index e fogueiras. Ele se confessa um possessivo. Ela uma boêmia. E Deus era tema-eixo dos desabafos. O reconhecimento de um pelo outro como o amigo ouvinte para os sonhos e as burradas da vida. E são tantos... tantas as idas e tantos os vôos de menina. E são tantos os momentos de tédio e alegria do rapaz.
Um em frente ao outro a confessarem seus fracassos – esqueceram completamente das vitórias. Um com a vida diferente – oposta!? – a do outro. Escolhas de vida: água, óleo e vinho. Um queria um pouquinho da vida alheia, embora suas naturezas fossem determinantemente contra os geradores de felicidade que cada um possui e criou para si.
Foi feita uma significante revista dos erros sem direito a erratas nem a choro – discurso seco de adultos calejados. Também não havia música, só o som de vozes e ruídos produzidos por talheres, copos. Além da presença dos homens, só o vento levando a garoa finíssima, insistente como a memória. A menina que corria pela rua e ficava na janela mexendo com o menino que passava não existe mais... Os adolescentes do Garagem se perderam também. Dois estranhos de si mesmos e íntimos das angústias um do outro, sem possibilidades de retorno e com dúvidas.
Muito ficou engasgado por não haver palavras que comunicassem o gosto amargo do não-arrependimento pelas escolhas feitas em cima dos mais abstratos pensamentos e dos mais concretos sentimentos.
Despediram-se:
- Boa viagem!
- Obrigado.
Foram para suas casas e dormiram agradecidos pela cumplicidade sem cobranças, sem ironias, sem conselhos-clichês, sem necessidade de continuidade de confissões. Afinal, não há desejo de recomeços. Cada um é sua própria solução...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 13 de maio de 2006.
Não há solução! E o melhor é o movimento de busca. Mas buscar o quê, se todo o retorno ao passado é vão. O efeito curativo é de momentânea renovação da alma.
Ele lembrava do casamento há mais de uma década atrás. E de tudo mais relacionado à adolescência. Ela lembrava que foge de casamentos a la séc. XVI sujeitos a index e fogueiras. Ele se confessa um possessivo. Ela uma boêmia. E Deus era tema-eixo dos desabafos. O reconhecimento de um pelo outro como o amigo ouvinte para os sonhos e as burradas da vida. E são tantos... tantas as idas e tantos os vôos de menina. E são tantos os momentos de tédio e alegria do rapaz.
Um em frente ao outro a confessarem seus fracassos – esqueceram completamente das vitórias. Um com a vida diferente – oposta!? – a do outro. Escolhas de vida: água, óleo e vinho. Um queria um pouquinho da vida alheia, embora suas naturezas fossem determinantemente contra os geradores de felicidade que cada um possui e criou para si.
Foi feita uma significante revista dos erros sem direito a erratas nem a choro – discurso seco de adultos calejados. Também não havia música, só o som de vozes e ruídos produzidos por talheres, copos. Além da presença dos homens, só o vento levando a garoa finíssima, insistente como a memória. A menina que corria pela rua e ficava na janela mexendo com o menino que passava não existe mais... Os adolescentes do Garagem se perderam também. Dois estranhos de si mesmos e íntimos das angústias um do outro, sem possibilidades de retorno e com dúvidas.
Muito ficou engasgado por não haver palavras que comunicassem o gosto amargo do não-arrependimento pelas escolhas feitas em cima dos mais abstratos pensamentos e dos mais concretos sentimentos.
Despediram-se:
- Boa viagem!
- Obrigado.
Foram para suas casas e dormiram agradecidos pela cumplicidade sem cobranças, sem ironias, sem conselhos-clichês, sem necessidade de continuidade de confissões. Afinal, não há desejo de recomeços. Cada um é sua própria solução...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 13 de maio de 2006.
APARIÇÃO
Fenecer
é um morrer bonito...
Feneço no clarão do teu olhar
que poderia chegar no teu corpo assustado
apressado
suado
numa tarde de verão.
Feneço no toque
fagueiro, quase proibido das mãos casuais.
Feneço quando a barba roça a palma da mão
e o corpo responde com um calor cortante.
Feneço no tom de voz mais grave
em afirmativas sintéticas do absoluto de minha vida.
Feneço na sofreguidão das lembranças
que tremem os músculos
que atordoam as idéias
que turvam as palavras (para que palavras?)
A quietude se faz dentro de mim,
ostra sem pérola
lagarta com asas
outro lado da lua.
Não sei ainda o que (re)nascerá de mim.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 04 de fevereiro de 1998.
Fenecer
é um morrer bonito...
Feneço no clarão do teu olhar
que poderia chegar no teu corpo assustado
apressado
suado
numa tarde de verão.
Feneço no toque
fagueiro, quase proibido das mãos casuais.
Feneço quando a barba roça a palma da mão
e o corpo responde com um calor cortante.
Feneço no tom de voz mais grave
em afirmativas sintéticas do absoluto de minha vida.
Feneço na sofreguidão das lembranças
que tremem os músculos
que atordoam as idéias
que turvam as palavras (para que palavras?)
A quietude se faz dentro de mim,
ostra sem pérola
lagarta com asas
outro lado da lua.
Não sei ainda o que (re)nascerá de mim.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 04 de fevereiro de 1998.
segunda-feira, setembro 18, 2006
O OUTRO: EU...
Um duplo:
espelho
que não se prende —
a imagem é figura e a alma intocável.
Um espelho
é lugar em que não se entra
é impenetravelmente total
cabal
completo
eu, você
nós cegos
Mas o que assusta e consola
é ser igual ao diferente
e continuar outro, um muito, eu.
Angélica Castilho
Miguel Pereira, 30.01.1998.
espelho
que não se prende —
a imagem é figura e a alma intocável.
Um espelho
é lugar em que não se entra
é impenetravelmente total
cabal
completo
eu, você
nós cegos
Mas o que assusta e consola
é ser igual ao diferente
e continuar outro, um muito, eu.
Angélica Castilho
Miguel Pereira, 30.01.1998.
CONSIDERAÇÕES MATERNAIS
O amor vai
d
i
m
i
n
u
indo
vira um grão de areia.
E se cai no chão
a gente não acha.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 17.01.1998.
d
i
m
i
n
u
indo
vira um grão de areia.
E se cai no chão
a gente não acha.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 17.01.1998.
SUSPENSÃO
Se acabar de
gritar
s e c a m e n t e
dias e noites
e
intervalos para o café.
Estar
com nó no peito
não é um novo estilo de moda.
Estar
com mal-de-semipaixão-fim-de-amor (e vice-versa)
não é a beira da alegria.
Estar assim
é começo do fim
é comprar as cartas certas e ter medo de jogá-las
é competir com seu(s) outro(o) eu(s) e empatar sempre, sempre
é sorrir nervosamente quando se chora
é consumir o espírito na incerteza/certeza das palavras, das elipses
é fugir da vida, da morte porque só o nada conforta
é ver-se fragilmente forte porque sabe o que fazer e não faz.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 09.01.1998.
gritar
s e c a m e n t e
dias e noites
e
intervalos para o café.
Estar
com nó no peito
não é um novo estilo de moda.
Estar
com mal-de-semipaixão-fim-de-amor (e vice-versa)
não é a beira da alegria.
Estar assim
é começo do fim
é comprar as cartas certas e ter medo de jogá-las
é competir com seu(s) outro(o) eu(s) e empatar sempre, sempre
é sorrir nervosamente quando se chora
é consumir o espírito na incerteza/certeza das palavras, das elipses
é fugir da vida, da morte porque só o nada conforta
é ver-se fragilmente forte porque sabe o que fazer e não faz.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 09.01.1998.
DESEJO
Atravessar quase a nado
as águas do rio de janeiro
abrindo o verão
para ver-te
tocar-te
ter-te (?)
... e morrer na praia.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 9.01.1998.
as águas do rio de janeiro
abrindo o verão
para ver-te
tocar-te
ter-te (?)
... e morrer na praia.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 9.01.1998.
UMA POSSIBILIDADE
Nova Iorque
“Matchopítiu”
Maiami.
Martine blanc
avec
cerise
without
ice versus chope.
Papo-cabeça
fazer cabeça
Inhasã.
Dinheiro: ter ou não ter
seu ou dos outros
eis as questões.
Papo-cabeça
Óbvio ululante
vida a dois
geometria sentimental...
Jorge no bip
no telefone
Valéria, Bete & Cia.
Pizza de pizza
e time to go.
Voltas pela Pç.
pressa
MAS que se foda o mundo
eu não me chamo Raimundo
e se chamasse seria rima mas não seria conclusão!
(Felipe andando de bicicleta competindo com o rio Maracanã)
Papo-três-horas, na verdade bem mais,
La mer est grande,
l’amour (...!? .) aussi,
e cabe nos sorrisos
fofocas
massagens ocidentais
ais interiores — alucinadores anímicos
Enquanto o tempo passa tão veloz quando as travessias pelos túneis da linha amarela.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 18 .01.1998.
“Matchopítiu”
Maiami.
Martine blanc
avec
cerise
without
ice versus chope.
Papo-cabeça
fazer cabeça
Inhasã.
Dinheiro: ter ou não ter
seu ou dos outros
eis as questões.
Papo-cabeça
Óbvio ululante
vida a dois
geometria sentimental...
Jorge no bip
no telefone
Valéria, Bete & Cia.
Pizza de pizza
e time to go.
Voltas pela Pç.
pressa
MAS que se foda o mundo
eu não me chamo Raimundo
e se chamasse seria rima mas não seria conclusão!
(Felipe andando de bicicleta competindo com o rio Maracanã)
Papo-três-horas, na verdade bem mais,
La mer est grande,
l’amour (...!? .) aussi,
e cabe nos sorrisos
fofocas
massagens ocidentais
ais interiores — alucinadores anímicos
Enquanto o tempo passa tão veloz quando as travessias pelos túneis da linha amarela.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 18 .01.1998.
AUTO-RETRATO
Só, tão só eu fico
Só, sem ninguém
Triste na minha
Sozinha, solitária.
Só, sem amigos
Sem ninguém ao meu lado
Só, com minha tristeza
Sem amigos...
Já que sou sozinha
Queria ser uma ave
Voar, ser livre.
Mas me conformo
Em ser só,
Sem você
Só comigo.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 06.10.1983
Só, sem ninguém
Triste na minha
Sozinha, solitária.
Só, sem amigos
Sem ninguém ao meu lado
Só, com minha tristeza
Sem amigos...
Já que sou sozinha
Queria ser uma ave
Voar, ser livre.
Mas me conformo
Em ser só,
Sem você
Só comigo.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 06.10.1983
COMPROMISSOS PESSOAIS
Diogo chega, dá dois beijinhos no rosto de Camila. Ela já esperava o recuo, afinal houve uma certa resistência em encontrá-la. No entanto, precisava vê-lo, olhar bem nos olhos, depois da queda de quarta-feira. Ele decide tomar café e começam a andar pelo shopping. Não aceitam o cartão dele. Não quer que ela pague. Desiste do café. Mais uma arbitrariedade: ele paga a conta, e ela, o estacionamento. Camila tenta debater, mas é inútil, então, liga o “foda-se” e deixa pra lá. Pensa em sugerir uma caminhada pela Praia de Icaraí. Final de tarde e os dois enfiados dentro de um bloco de concreto!
Antes mesmo de sentarem:
- Acho que vai rolar os States... (com sorriso, sem olhar nos olhos dela)
- É mesmo. E você quer?
- Quero. Não tem nada que me prenda a Niterói.
- Mas você disse que não te atraia a idéia, quando comentou esta possibilidade no seu trabalho.
- É... falei.
Nossa! Será que para não se envolver tem que ir para tão longe. A cidade é grande o bastante para não nos encontrarmos mais. Por que não vai para Sepetiba? Isto é quase lisonjeador! Ele não tem algo mais original para assinalar que a qualquer momento sairá correndo de perto de mim. O pior é que Camila tem certeza do potencial de Diogo para amar. Ela possui aquela loucura dos que são intuitivos que diz “é ele”, embora ela saiba que as pessoas encontram muitos “eles” pelo caminho.
De repente, ela soltou uma bomba:
- Você é instável.
- Nossa! Que horrível!
- Tá, inconstante.
- Pior! Reticente, vai.
- Reticente é muito leve.
- Eu gosto de eufemismos.
- Já percebi...
- Mas, quando eu me decido por algo, vou até o final.
A voz veio tão fraca que nem ele mesmo deve ter se convencido do que disse. Ela fez uma cara de “é mesmo?” E deixou pra lá.
Falaram de tudo um pouco. Da certeza – ela anda cheia das certezas ultimamente – de que ela precisa trabalhar em outro lugar; da reunião com a editora; do projeto da revista. Ela falou do Augusto, sem falar no nome Augusto, do dilaceramento, das intuições que estão se fortificando e a arrebatando doloroso. E deixou escapar que foi noiva. Diogo saltou num misto de surpresa e de alegria de quem recebe um presente em forma de dados. Ele se manifestou com opiniões em todos os assuntos. E, do topo do seu ceticismo, disse que a jovem chegou a um estágio que ele quer chegar: de canalizar o pensamento tão intensamente a ponto de conseguir o que deseja, por isto as coisas acontecem.
Camila, então, do topo do seu misticismo, do topo de sua religiosidade, no sentido latino da palavra, pensava nas coisas que muito quis e não realizou, porque também sabe que o mundo acontece independente de sua vontade, tem noção de sua humilde condição de apenas ser humana. O que ele não entendeu, ou não sabe, é que ela apenas sente que as coisas virão, que as coisas são sem que ninguém as controle.
Ele diz que o homem é capaz de viver sozinho. Trava-se outro diálogo em que entra Baudelaire e seu conceito de flaneur, Benjamim e a idéia de aura, Marcuse – mas este ela não cita. Ela falou de Roland Barthes, para rebater a massagem tailandesa... Distinguiu o erótico do pornográfico. Enfim, falou do poder que existe que mobiliza determinadas pessoas e não outras. E o discurso era tão seguro, tão justo, não pelas citações, mas por já haver conhecido a felicidade e, sobretudo, descoberto na quarta-feira que ela pode ser imensa, apesar de dolorosa. Ela não tem mais medo de perder as pessoas que ama. Sabe que a felicidade está sempre do outro lado da ponte. Não importa em que lado você esteja, é preciso atravessar, tomá-la para si e retornar em paz.
Fatigados dos debates, ambos vão cedendo à carne. No entanto, vácuos deixados pelos atos de carinho ainda vão sendo ocupados por diálogos:
- Você está mesmo muito perturbada.
- Está me assustando um pouco.
- É a força do seu pensamento.
- Vai além do que eu quero.
- Ah, vai... Tudo é dirigido por você.
Ela começa a brincar. Faz proposta de ligar na sexta, monta um diálogo sacana, aludindo à massagem tailandesa, a quimonos. Ele recua discretamente. Impossível não comentar.
- Nossa! Você é muito inteligente! Coisa de aplaudir. (bate palmas) Malandro...
- A segunda a palavra, qual foi?
- Malandro?
- Igual ao seu colega de trabalho?
- Não, ele é mau-caráter. E você não.
- Você não me conhece. Ah!! Eu não disse isto.
- Você também não me conhece. Taí, tenho certeza que você não é, pode ser muita coisa, mas mau-caráter não.
Silêncio.
Caminhando pela praia, sem sol, final de verão, rumores, carros passando, a visão da Baia. Solidão acompanhada... Camila sabe que ele vai fugir e, pior do que isto, ela facilitar, porque tem um compromisso com a felicidade.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 17.03.2003
Adaptado em 11.0.2003
Antes mesmo de sentarem:
- Acho que vai rolar os States... (com sorriso, sem olhar nos olhos dela)
- É mesmo. E você quer?
- Quero. Não tem nada que me prenda a Niterói.
- Mas você disse que não te atraia a idéia, quando comentou esta possibilidade no seu trabalho.
- É... falei.
Nossa! Será que para não se envolver tem que ir para tão longe. A cidade é grande o bastante para não nos encontrarmos mais. Por que não vai para Sepetiba? Isto é quase lisonjeador! Ele não tem algo mais original para assinalar que a qualquer momento sairá correndo de perto de mim. O pior é que Camila tem certeza do potencial de Diogo para amar. Ela possui aquela loucura dos que são intuitivos que diz “é ele”, embora ela saiba que as pessoas encontram muitos “eles” pelo caminho.
De repente, ela soltou uma bomba:
- Você é instável.
- Nossa! Que horrível!
- Tá, inconstante.
- Pior! Reticente, vai.
- Reticente é muito leve.
- Eu gosto de eufemismos.
- Já percebi...
- Mas, quando eu me decido por algo, vou até o final.
A voz veio tão fraca que nem ele mesmo deve ter se convencido do que disse. Ela fez uma cara de “é mesmo?” E deixou pra lá.
Falaram de tudo um pouco. Da certeza – ela anda cheia das certezas ultimamente – de que ela precisa trabalhar em outro lugar; da reunião com a editora; do projeto da revista. Ela falou do Augusto, sem falar no nome Augusto, do dilaceramento, das intuições que estão se fortificando e a arrebatando doloroso. E deixou escapar que foi noiva. Diogo saltou num misto de surpresa e de alegria de quem recebe um presente em forma de dados. Ele se manifestou com opiniões em todos os assuntos. E, do topo do seu ceticismo, disse que a jovem chegou a um estágio que ele quer chegar: de canalizar o pensamento tão intensamente a ponto de conseguir o que deseja, por isto as coisas acontecem.
Camila, então, do topo do seu misticismo, do topo de sua religiosidade, no sentido latino da palavra, pensava nas coisas que muito quis e não realizou, porque também sabe que o mundo acontece independente de sua vontade, tem noção de sua humilde condição de apenas ser humana. O que ele não entendeu, ou não sabe, é que ela apenas sente que as coisas virão, que as coisas são sem que ninguém as controle.
Ele diz que o homem é capaz de viver sozinho. Trava-se outro diálogo em que entra Baudelaire e seu conceito de flaneur, Benjamim e a idéia de aura, Marcuse – mas este ela não cita. Ela falou de Roland Barthes, para rebater a massagem tailandesa... Distinguiu o erótico do pornográfico. Enfim, falou do poder que existe que mobiliza determinadas pessoas e não outras. E o discurso era tão seguro, tão justo, não pelas citações, mas por já haver conhecido a felicidade e, sobretudo, descoberto na quarta-feira que ela pode ser imensa, apesar de dolorosa. Ela não tem mais medo de perder as pessoas que ama. Sabe que a felicidade está sempre do outro lado da ponte. Não importa em que lado você esteja, é preciso atravessar, tomá-la para si e retornar em paz.
Fatigados dos debates, ambos vão cedendo à carne. No entanto, vácuos deixados pelos atos de carinho ainda vão sendo ocupados por diálogos:
- Você está mesmo muito perturbada.
- Está me assustando um pouco.
- É a força do seu pensamento.
- Vai além do que eu quero.
- Ah, vai... Tudo é dirigido por você.
Ela começa a brincar. Faz proposta de ligar na sexta, monta um diálogo sacana, aludindo à massagem tailandesa, a quimonos. Ele recua discretamente. Impossível não comentar.
- Nossa! Você é muito inteligente! Coisa de aplaudir. (bate palmas) Malandro...
- A segunda a palavra, qual foi?
- Malandro?
- Igual ao seu colega de trabalho?
- Não, ele é mau-caráter. E você não.
- Você não me conhece. Ah!! Eu não disse isto.
- Você também não me conhece. Taí, tenho certeza que você não é, pode ser muita coisa, mas mau-caráter não.
Silêncio.
Caminhando pela praia, sem sol, final de verão, rumores, carros passando, a visão da Baia. Solidão acompanhada... Camila sabe que ele vai fugir e, pior do que isto, ela facilitar, porque tem um compromisso com a felicidade.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 17.03.2003
Adaptado em 11.0.2003
domingo, setembro 17, 2006
ADEJARES
Ando em solidão rodrigueana quase integral
Sem sextas para gargalhar a vida!
Beber os sonhos amigos e próprios,
Em um constante negócio de emoções,
Tufões de alegrias:
Alegria! Alegria! Alegria!
Vou me dar solidão saudável de presente
E daqui ao tempo necessário,
que só o tempo sabe quanto tempo se faz tempo para iniciar um novo tempo,
Vou me perfumar, enfeitar, subir em um tamanco
E me encaminhar para a Portela ou qualquer lugar que valha...
Rodopiar sóbria em noites por aí.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 23.05.2006.
Ando em solidão rodrigueana quase integral
Sem sextas para gargalhar a vida!
Beber os sonhos amigos e próprios,
Em um constante negócio de emoções,
Tufões de alegrias:
Alegria! Alegria! Alegria!
Vou me dar solidão saudável de presente
E daqui ao tempo necessário,
que só o tempo sabe quanto tempo se faz tempo para iniciar um novo tempo,
Vou me perfumar, enfeitar, subir em um tamanco
E me encaminhar para a Portela ou qualquer lugar que valha...
Rodopiar sóbria em noites por aí.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 23.05.2006.
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