sábado, novembro 18, 2006


DESENLACE

Bom dia! Eu vou-me embora.
Não há mais luar,
Alto caminha o sol,
Garrafas, latas acumulam-se nas escadas,
E o burburinho apressado
A caminho da Avenida Passos
Revela o mundo desperto.

Bom dia. Mas já é quase tarde...
E a prisão do meio de tuas pernas
Aflige-me, deleita-me...
Desassossego!
Sair assim, com roupa por abotoar,
Com cabelo por amarrar, prender,
Sair assim, contendo o corpo horas atrás liberto,
Alvoroça-me toda.
Mas o sol está alto
Cantos de sirenes e buzinas e palavras anunciam
O ritmo da segunda-feira magra, magra de tantas caminhadas.

Bom dia... Eu vou ficando...
Entre braços somados aos meus
Entre múltiplos atos desconexos
Entre engolires de beijos – corpos acoplados...

Bom dia. Já é tarde...
Vou-me embora sem bater a porta
Cato espelho, carteira, bolsa, celular, batom, chaves,
Enquanto desabas em novo sono.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2006.
Obs.: Inspirado no poema “Boa noite, Maria!”, de Castro Alves.

Nenhum comentário: